Com corte na escala de sobreavisos, médico ginecologista lamenta na tribuna livre suspensão da realização de partos em Paraguaçu

porCâmara Municipal de Paraguaçu

Com corte na escala de sobreavisos, médico ginecologista lamenta na tribuna livre suspensão da realização de partos em Paraguaçu


 

SAÚDE PÚBLICA

 

helder 002

A tribuna livre da Câmara voltou a ser o centro de discussões controversas em Paraguaçu. Na noite de 2 de setembro o púlpito do Legislativo recebeu o pronunciamento do médico Hélder Lamin Resende, ginecologista e obstetra que atua há cinco anos no nosso município.

Entre outros temas relacionados ao setor de Saúde, o médico lamentou a suspensão da realização de partos no município, procedimentos que vinham acontecendo até o mês passado em Paraguaçu — aliás, só em agosto nasceram 16 bebês no hospital local e a média até então era de 20 a 30 partos mensais.

Segundo Hélder, a notícia é particularmente negativa para uma cidade que conta com instalações físicas adequadas para o trabalho de parto.

“Nós temos uma sala de parto estruturada, carrinho de anestesia do mais alto padrão, ultrassom, cardiotocografia (exame para avaliar a vitalidade do bebê) e medicações. Então toda a estrutura que um médico obstetra precisa existe aqui”, detalhou.

De acordo o médico, a interrupção da prestação do serviço pela Fundação Hospitalar teria raízes financeiras, já que o repasse garantido atualmente pelo convênio com a Prefeitura não seria suficiente para o pagamento do sobreaviso dos médicos. Ele apresentou em detalhes a sua versão dos fatos.

“A escala de sobreaviso é uma retaguarda para o plantonista. O plantonista que fica no pronto-socorro precisa de um obstetra, um ginecologista, um pediatra, um cirurgião, porque ele não é especialista. E a Fundação Hospitalar vem passando por problemas financeiros há anos. O contrato com a administração municipal tem valor muito abaixo do que realmente necessita, portanto o hospital teve que cortar gastos”, argumentou Hélder.

“Se chegar alguém precisando de uma cirurgia de apendicite, não tem cirurgião na escala de sobreaviso. A responsabilidade é do plantonista e ele vai ter que se virar, vai ter que transferir esse paciente, aceitem ou não aceitem em outro hospital, nem que tenha que precisar ficar no SUS Fácil esperando vaga. Se chegar uma paciente gestante em trabalho de parto, que é a minha especialidade, não tem obstetra na escala de sobreaviso. Eu vou atender, eu vou examinar, eu vou lá ver se está em trabalho de parto. ‘Ah, está em trabalho de parto, então vamos fazer o parto. Vamos’. Quem é o pediatra que vai pegar o bebê? Não tem pediatra! Então está bom, vai ser um parto normal, eu assumo, eu pego o bebê. E se precisar fazer uma cesariana de urgência, o bebê entrou em sofrimento, quem vai anestesiar? Ficou complicado. Eu resolvi pedir a tribuna justamente por isso”, explicou o médico.

 

helder 004

PARA LAMENTAR
De maneira geral, o pronunciamento do ginecologista Hélder revelou a frustração de um profissional que já criou vínculos com as gestantes paraguaçuenses e agora não mais pode conduzir os partos no hospital local.

Segundo o médico, ainda não há perspectivas para que isso volte a acontecer, com exceção dos procedimentos eletivos, aqueles que são previamente agendados, que vão continuar sendo realizados em Paraguaçu. Ou seja, o corte na escala de sobreavisos compromete os atendimentos de urgência e emergência no hospital.

As falas dos vereadores Francis da Van e Selmo Silva também caminharam no sentido de lamentar a suspensão de alguns dos atendimentos do hospital.

“Se o médico, como um profissional que vem trabalhar na nossa cidade, fica triste com esses problemas que vêm ocorrendo, imagina nós que estamos aqui, que somos daqui, que trabalhamos muito para defender o direito do povo. Mas vamos analisar o que está ocorrendo para cobrar do Executivo. Tem o lugar adequado, tem os profissionais no município e não tem a equipe por causa do repasse”, observou Francis.

“O senhor prefeito já sabia disso. Nós vereadores podemos fazer um ofício e encaminhar ao Executivo sobre o que aconteceu aqui, que nós estamos cientes, para que ele possa arrumar uma maneira de ajudar a Fundação a resolver esse problema. O que não pode é as mães ficarem nesse sofrimento, nessa angústia”, enfatizou Selmo.

CONTRAPONTO
O contraponto surgiu das considerações dos vereadores Rafael da Quadra e Marlon Tomé, que observaram o crescimento do repasse de verbas para a Fundação Hospitalar nos últimos anos e os valores em comparação com o panorama de uma cidade vizinha.

“No ano de 2009 nós tínhamos um repasse ao hospital de R$ 1.240.000, o que dava uma média de R$ 110 mil por mês. Em 2012 aumentou o repasse entre a prefeitura e o hospital para R$ 251 mil todo mês, totalizando no final um valor de R$ 3 milhões. Saúde é primordial e se a gente tiver condição de passar até R$ 5 milhões, melhor ainda. Mas é um montante que nós fiscalizadores da Câmara temos que ir atrás para ver como está sendo usado. É uma questão de fiscalização e esclarecimento”, afirmou Rafael.

“Na cidade de Elói Mendes, o valor não é fixo, mas o repasse do ano totalizou R$ 1,6 milhão. E lá, de acordo com as informações, as coisas estão correndo bem. Não é questão que nós estamos desconfiando de ninguém, é obrigação nossa porque lá no hospital é dinheiro público”, emendou.

“É preciso buscar soluções, porque a Prefeitura vem investindo cada vez mais. São R$ 3.011.000 por ano, 39% dos recursos próprios da Saúde. E se for para investir mais no hospital, vai faltar para as outras áreas e nós não vamos poder cobrar calçamento, estradas, educação. Só para ter uma noção do aumento progressivo desses valores que vêm sendo repassados à Fundação Hospitalar, a gente pode observar que em 2008 eram R$ 1.104.000, em 2009 R$ 1.240.000, em 2010 R$ 1.858.000, em 2011 R$ 1.947.000, em 2012 R$ 2.385.000, em 2013 R$ 2.911.000 e em 2014 R$ 3.011.000. A gente tem que buscar uma saída e ver como as coisas funcionam nas outras cidades”, defendeu Marlon.

DEBATE CONTÍNUO
Ao fim das discussões, os vereadores se comprometeram a fortalecer a articulação entre o Executivo e a Fundação Hospitalar de Paraguaçu e buscar saídas para aprimorar a prestação dos serviços de saúde no município.


Sobre o Autor

Câmara Municipal de Paraguaçu administrator

Deixe uma resposta